quarta-feira, 11 de março de 2009

Exclusão Social x Consciência Social

Sou um morador de rua. Passo o dia todo estirado ao chão porque não tenho coragem de olhar para os que passam, indiferentes, ao meu lado. Vejo muita gente. Dificilmente vejo passar algum cachorro. Nem um vira-lata sequer. Os que foram postos na rua, como eu, não estão mais nela. Já apareceu “uma alma generosa” que os recolheu. Até quem me jogou na rua tem seu cão. Provavelmente, nunca terá coragem de fazer com ele o que fez comigo.
Ah! Que pena que não sou um cachorro!… Assim fosse, talvez já me teriam recolhido. Ao menos, quem sabe, me encaminhado a um abrigo. Ah! Que pena que não sou um cachorro!… Haveria alguém que me assumiria, me levaria ao doutor, compraria as vacinas de que necessito, os remédios e trataria das minhas feridas.
Ah! Que pena que não sou um cachorro!… Eu teria minha casinha própria, nem precisaria lavar minha casa. Quem me tivesse assumido a lavaria para mim. Ah! Se eu tivesse nascido cachorro!… Aqui na rua não tenho onde fazer minhas necessidades e tomar banho. Se eu fosse um cão, tudo isso estaria previsto! Mas eu sou humano!… Ninguém se detém para falar comigo!
Se eu fosse um cão, meu dono me levaria a passear!… Ah! Que pena que não sou um cachorro!… Poderia até entrar na casa do meu dono. Ser abraçado, acariciado. Mesmo que eu não pudesse trabalhar, minha comida, remédio, banho, corte de cabelo… Tudo estaria garantido. Seria um bicho de estimação. Seria estimado por alguém que cuidaria de minhas necessidades mais fundamentais.
Hoje me pergunto: se eu fosse um cão?
Se eu fosse um cão eu não seria gente!
Eu não seria filho de Deus.
Eu não seria, no Juízo Final, o mais mencionado pelo Rei Jesus.
Se eu fosse um cão as pessoas não poderiam ver Jesus em mim.
Ah! Como eu sou feliz por não ser um cachorro!… Por ser gente!
Ah! Como eu sou feliz, apesar de estar só e abandonado na rua! Eu sou o “pobre Lázaro” de hoje sobre o qual Jesus falou. Eu sou aquele que quer ao menos as migalhas de suas mesas ou uma pequena parte do que é dado e gasto com os animais de estimação.
No dia em que ao menos os cristãos gastarem com os moradores de rua, 10% do que gastam com seus animais de estimação, estes não precisarão mais permanecer na rua. Se há lugar para os animais, haverá também para os excluídos sociais.
Permitamos considerar que a inclusão social pode ser realizada de inúmeras formas, sendo a esmola a mais inadequada delas. Mendingos não precisam de esmola precisam de solidariedade e respeito. A justiça do mundo é proporcional à nossa consciência social.

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